Cerveja e chope são a mesma coisa?

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Você sabe qual a real diferença entre cerveja e chope?

 

Se pensou quase que instantaneamente: “a cerveja é pasteurizada, o chope, não”… não é bem assim!

Este é um mito, extremamente difundido… é até difícil de acreditar. Ainda não acredita? Tente então, em qualquer lugar no mundo (fora do Brasil), pedir um chope. Nem nas terras cervejeiras alemãs você terá êxito, infelizmente.

Mas porquê??? Qual a diferença entre cerveja e chope, afinal?

Bem, a palavra chope, ou chopp, é derivada da palavra alemã schoppen, a qual teve origem no termo francês chopine, ou chopaine. Em desuso desde o século XIX, o termo alemão significava, no idioma arcaico, não a cerveja que havia sido pasteurizada, mas sim uma unidade de volume – algo em torno de meio litro.

E de onde então surgiu esta confusão em terras tupiniquins?

Vamos contar uma pequena história… que inicia quando os primeiros cervejeiros alemães vieram ao Brasil, no final do século XIX, ajudar a implantar as primeiras cervejarias do país.

Ao final de um dia árduo de trabalho, os colegas alemães tinham o costume de beber cerveja direto da fonte… muito provavelmente que os colegas brasileiros, dos quais do idioma alemão entendiam bulhufas, interpretaram como sendo cerveja aquilo que os técnicos alemães lhe pediam quanto estendiam suas canecas dizendo “ein schoppen!”.

E assim, após alguns canecos da nossa amada bebida, um idioma estranho e o jeitinho brasileiro… voilá! Ficou entendido para os nossos ancestrais brasileiros que a cerveja que saísse diretamente do barril era schoppen. Ou, como adoramos simplificar, chopp.

Por fim, a palavra chope existe apenas no Brasil e continua sendo empregada incorretamente até os dias atuais. Acabou ficando enraizado em nossa cultura cervejeira que toda cerveja extraída de um barril através de uma torneira tem de ser chamada de chope, e que esta não passa pelo processo de pasteurização.

Nos dias de hoje, grande parte da cerveja brasileira já sai de fábrica pasteurizada, independentemente do modo de envase (garrafa, lata ou mesmo barril). As grandes cervejarias costumam utilizar um sistema chamado de “flash-pasteurização”, a fim de garantir estabilidade microbiológica à bebida. Em contraponto, estão algumas cervejas importadas ou artesanais produzidas no Brasil que não são pasteurizadas, a fim de preservar-lhes as características de aromas e sabores. Em alguns tipos, a levedura ainda viva continua a fermentar dentro da garrafa ou do barril, dando a cada dia novos e complexos sabores e aromas ao nosso líquido precioso – são as chamadas “cervejas vivas”. Assim, fica mais difícil ainda poder chamar estas cervejas não pasteurizadas de chope.

Resumindo, após toda esta história, fica claro que associar chope ao processo de pasteurização da cerveja é um grande equívoco, embora continue a persistir insistentemente ao longo do tempo.

No entanto, se você ainda insiste que há diferença entre a cerveja de garrafa e aquela deliciosa CERVEJA que sai direto do barril, mesmo quando ambas passaram por exatamente o mesmo processo, temos um segredinho: alguns especialistas dizem que realmente existe uma diferença no paladar. O fato é que no momento em que a cerveja circula na serpentina da chopeira ocorre uma perda de CO2, e consequentemente uma diminuição da acidez, o que torna a bebida mais palatável – e saborosa, para muitos.

Não importa a forma que a cerveja está armazenada, quer seja em barris, latas ou garrafas. Cerveja é sempre… cerveja! E quando bem elaborada, é deliciosa!

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About Author

* Sommelier de Cervejas - Instituto da Cerveja Brasil (ICB), Associação Brasileira de Sommelier (ABS), e Association de la Sommellerie Internationale - França (ASI); * Cervejeiro - Curso Avançado de Tecnologia Cervejeira pelo Instituto da Cerveja Brasil (ICB) / Universidade Técnica de Munique (TUM) / Universidade de Weihenstephan; * Diretor Geral/Blogger no Vem do Malte; * Cervejeiro caseiro, entusiasta e estudioso sobre cervejas; * MBA em Gestão Empresarial com Ênfase em Gestão de Projetos – FGV; * Graduado em Engenharia Química – UNISUL; * Professor nos cursos de Engenharia Química, Química Industrial, Engenharia de Produção e Gestão da Produção na UNISUL e coordenador do curso de Pós-graduação em Sommelieria, Harmonização e Empreendedorismo Cervejeiro; * Fundador, proprietário e cervejeiro na Hai Bier cervejaria e pub.

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